Revista | Tatiana Bilbao Estudio – Série monográfica de arquitetura
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Estas exposições nos permitem penetrar no processo de trabalho de um determinado estúdio de arquitetura e muitas vezes revelam de que maneira as ideias são traduzidas em formas. Em consonância com o mundo ao nosso redor, os arquitetos que participam como expositores dessas séries monográficas estão interessados em desafios políticos e sociais, tais como as mudanças climáticas e a superpopulação, a urbanização e o patrimônio cultural. São exposições que questionam como se conectam as intenções desses arquitetos com a sua forma de expressão e os métodos adotados.
A primeira delas, realizada em 2017, focou na obra do escritório chinês Amateur Architecture Studio, dirigido por Wang Shu e Lu Wenyu. A segunda, em 2018, abordou o trabalho do grupo chileno ELEMENTAL, liderado pelo diretor artístico e arquiteto Alejandro Aravena.
A última edição, que explora a obra da reconhecida arquiteta mexicana, é atravessada pela versatilidade de escalas, programas e materiais que, ao contrário de uma boa parte da arquitetura contemporânea, não se reduzem a uma simples marca formal.
Tatiana Bilbao se opõe em vários aspectos às tendências dominantes da arquitetura de hoje. Em vez de uma estratégia empresarial rigorosa, baseada em uma linguagem formal grandiloquente e em certas fórmulas repetitivas, evidencia uma preocupação explícita pelos lugares e os seres humanos. Trabalha com a proximidade e encontro pessoal, uma abordagem que lhe permite realizar projetos importantes, mesmo em uma megalópole como a Cidade do México.
Bilbao também se distingue por realizar uma prática baseada no trabalho colaborativo com artistas, biólogos e escritores, assim como com outros arquitetos. Neste sentido, para a realização do Jardim Botânico de Culiacán, convocou trinta e cinco artistas para contribuir com os pavilhões e as obras.
Assim como a sua arquitetura, os seus processos de trabalho são impulsionados pela proximidade e pelo tempo e as suas ferramentas de projeto preferidas são a colagem e o desenho. “Apesar das mídias sociais digitais e dos lugares de encontro, nós, como seres humanos, continuamos a nos mover no âmbito físico da arquitetura. O desenho manual e o trabalho com a colagem representam uma insistência no compromisso pessoal, no mundo físico e na capacidade humana de se comunicar sem máquinas. É uma maneira de pensar sobre as coisas e criar um mundo novo”, ressalta.
Embora grande parte da sua obra se desenvolva no contexto mexicano, marcado pela escassez de recursos, Tatiana Bilbao promove uma busca consciente da beleza em tudo o que empreende. “Todo mundo tem direito à beleza”, afirma, e argumenta que os acabamentos de uma casa ou de um projeto de habitação social devem
demonstrar que a obra está concluída, pronto para ser habitada, ao contrário dos bairros marginalizados temporários que crescem sem controle em todas as cidades do México. Um mínimo de qualidade estética deve proporcionar um solo fértil para uma vida melhor. Portanto, não só museus, universidades e aeroportos devem ser projetados por arquitetos.
Quanto à escassez de recursos, que condiciona o contexto dentro do qual ela desenvolve o seu trabalho, Bilbao sustenta que isso a obriga a projetar a partir do uso de tudo o que está disponível, razão pela qual a palavra “sustentabilidade”, tão usada ultimamente, a deixa desconfortável. “A ideia de sustentabilidade não deveria se limitar a uma fachada, mas ao questionamento se um edifício deveria ou não ser construído”, e acrescenta: “quando você vem de um país onde muitas pessoas têm muito poucos recursos econômicos, você está acostumado a não os desperdiçar”.

PAISAGENS, CURIOSIDADES E LUGARES
A exposição, que pode ser visitada na Galeria de Colunas e na Galeria Hall do Museu de Arte Moderna de Louisiana, é construída de tal forma que os desenhos, colagens, modelos e materiais estão integrados por uma ideia de conteúdos heterogêneos.
O primeiro tema da exposição, “Paisagens”, identifica um dos principais elementos presentes no trabalho dos arquitetos: o registo do lugar. Paisagem é o termo para a soma das estruturas materiais e imateriais que constituem um local. Através de várias categorias de paisagem, a arquiteta regista o lugar no qual trabalha. O visitante pode experimentar a aproximação analógica de Bilbao com a arquitetura através de uma estrutura urbana que se estende sobre o piso e as paredes da Galeria de Colunas.


O segundo tema da exposição, “Curiosidades”, oferece um retrato da enorme produção de modelos, desenhos e colagens que prefiguram a obra arquitetônica final. Em um grande mural composto por estantes, são expostos os estudos de formas ao lado das fontes de inspiração, amostras de materiais e objetos, cada um dos quais, à sua maneira, pilares dos projetos do estúdio: casas, moradia social e residências particulares, construídas principalmente no México.
Com o terceiro tema, “Lugares”, é possível aproximar-se da verdadeira escala e materialização da arquitetura através de quatro quadros que se concentram nos diferentes dispositivos materiais e formais de Bilbao. A seção articula as técnicas tradicionais de construção mexicana com a pré-fabricação moderna. Assim, cada retábulo é composto por fragmentos de diferentes projetos que compartilham a mesma técnica de construção, o uso de materiais ou o programa. São apresentados ao espectador como uma espécie de colagem tridimensional que transmite uma sensação de espacialidade e materialidade, mas que ao mesmo tempo nos permite imaginar concepções próprias do espaço.
Por outro lado, em uma sala de projeções são apresentados quatro documentários: o primeiro é uma conversa entre Tatiana Bilbao e seu mentor, o arquiteto suíço Jacques Herzog (sócio de Herzog & De Meuron). O filme foi produzido pela Lousiana Channel em 2019. Os demais filmes abordam três projetos emblemáticos de Bilbao no seu país: “La Ruta del Peregrino”, em Jalisco, o “Jardín Botánico” de Culiacán e o “Camino Luminoso”, na Cidade do México.—