Ágora-Bogotá

Bermúdez Arquitectos + estudioHerreros

Fotografia Federico Cairoli

Dada a sua localização, o Ágora-Bogotá não deveria ser considerado meramente um centro de convenções para visitantes esporádicos com pouco contato com a cidade, mas deveria passar à categoria de edifício público incorporado ao imaginário de todos os cidadãos. Os esforços do projeto se centraram em atender tanto às exigências coletivas quanto às especializadas. Entre as primeiras, está a necessidade de oferecer uma imagem capaz de representar as aspirações de uma sociedade em transformação e a de convocar uma sensibilidade ambiental e uma ambição tecnológica que coloque o edifício dentro das inquietações do presente. As segundas se centram em aspectos práticos, como um sistema de circulação, tanto do público como dos suprimentos e do staff, facilmente compreensível; uma distribuição invisível, porém hierarquizada e interconectada de todos os serviços internos, que éper seo esquema logístico do edifício; e uma flexibilidade que admita a programação de diversos formatos: de um show a uma feira de mostras, de um congresso a um festival de cinema, de um grande banquete a um campeonato mundial de xadrez. Graças à facilidade de adaptação dos salões às diferentes necessidades, dividindo-os ou permitindo o seu uso simultâneo, os cidadãos de Bogotá terão motivos frequentes para utilizar o edifício. Para isso, foram tomadas duas decisões importantes: organizar o esquema logístico em torno de quatro grandes núcleos verticais de circulação, serviços e áreas técnicas, que em cada lado atendem e tornam possíveis os programas mais variados; e eliminar os pisos inclinados nos auditórios e seu mobiliário fixo habitual para desenvolver um espaço de encontros e atividades tão diversas como a imaginação dos seus programadores e as demandas do mercado for capaz de produzir.

Fotografia Javier Callejas

A escala do complexo e a variedade dos seus itinerários internos permitem concebê-lo como um fragmento encapsulado de cidade. Deste modo, aproveitando o clima ameno de Bogotá, uma grande entrada coberta recebe os usuários e permite a entrada ao grande vestíbulo que funciona como uma praça principal rodeada por um anel de lugares de reunião, conformando uma marca na planta do edifício cujas dimensões coincidem deliberadamente com a dos quarteirões do centro histórico da cidade. A sequência saguão-vestíbulo é o início de um esquema em espiral ascendente, delimitado por uma série de praças-vestíbulo que funcionam como mirantes voltados sobre as quatro ecologias que conformam a cidade: os morros, o centro histórico, a savana e os novos projetos no caminho que vai ao aeroporto. A partir destes observatórios privilegiados, o edifício se transforma em um dispositivo para contemplar e entender a cidade e sua geografia. Além disso, a configuração densa e vertical libera uma quantidade considerável do espaço público recreativo e se transforma, além disso, em um grande estacionamento para bicicletas.

Com respeito a sua construção e tecnologia, Ágora-Bogotá exibe um empenho para alcançar uma confluência holística entre os esquemas estruturais, as instalações e os sistemas construtivos em um conjunto unitário, sem acontecimentos isolados. A confluência dos três esquemas se materializa em uma série de espaços diáfanos equipados com um avançado sistema de climatização passiva que prescinde de qualquer equipamento de ar condicionado que implique em gastos energéticos, a favor da ventilação natural que aproveita o clima da cidade, criando uma simbiose do edifício com o ecossistema que ele habita.

Os espaços internos do edifício se relacionam continuamente com a cidade, conformando um carácter extrovertido atípico em edifícios de programa e escala similar. Os sistemas que estruturam, articulam e acondicionam o grande volume são os elementos que delimitam os espaços de uso e demonstram a complexidade do projeto em seu entrecruzamento.

Os materiais utilizados seguem a guia da sobriedade – pavimentos pétreos de grande formato, forros técnicos de fibra leve que abrigam todos os recursos necessários, paramentos translúcidos em vidro serigrafado e paredes opacas de painéis de cimento-madeira – e revelam o funcionamento do edifício, cedendo o protagonismo ao espaço que se entrega aos usuários, seus verdadeiros atores principais.

A fachada é a peça-chave deste conjunto técnico. Construída a partir de esquadrias de grandes dimensões que incorporam a subestrutura, os vidros de diferentes tamanhos e tratamentos, e as brânquias eletronicamente controladas para a captação do ar do exterior, o conjunto se comporta como uma pele sensível de resposta variável, reagindo às condições ambientais da temperatura ensolarada e úmida do clima local. A fachada é a expressão da complexidade metropolitana operada pela arquitetura e a simplicidade que ela está obrigada a devolver como resposta.