No final da década de 70, os países nórdicos fundaram os primeiros conjuntos co-living, impulsionados pela busca de novas relações sociais. Embora alguns preceitos iniciais tenham se transformado ao longo do tempo, a última década voltou a produzir projetos como o Lange Eng, os quais reformularam o modo de vida coletivo que vinha sendo determinado pelo estado de bem-estar social.
O Lange Eng é um edifício localizado em Albertslund que faz parte de um conjunto de novos projetos de moradias compartilhadas construídos na Dinamarca desde 2008. O projeto surgiu de múltiplas conversas entre os futuros residentes e a equipe de arquitetos, liderada pelo Dorte Mandrup.
Com o objetivo de priorizar os espaços comuns e os laços comunitários das famílias que moram no local, o edifício foi projetado como um típico quarteirão retangular dinamarquês que circunda um grande pátio, onde está localizado um jardim verde comum a todos os usuários.
Embora a abordagem morfológica reproduza o layout da cidade, o projeto propõe uma importante inversão em termos programáticos: os espaços íntimos das moradias se voltam para o perímetro exterior do bloco, composto por aberturas menores e revestido com um material escuro semelhante ao utilizado na cobertura; já as áreas sociais (cozinhas e salas de estar), com pé-direito duplo e uma fachada mais leve e transparente, articulam-se ao redor do pátio central, facilitando o vínculo entre os habitantes e a construção de relações sociais, além de conformar um espaço seguro que pode ser livremente apropriado pelas crianças.
Embora o pátio central do edifício seja de uso público, os moradores têm frequentemente debatido sobre a possibilidade de limitar o seu acesso, o que não é permitido pelo plano diretor.
Todos os habitantes têm acesso ao jardim e aos terraços que, dispostos ao longo da fachada interior, oferecem uma extensão da vida doméstica ao espaço comum.
Apesar de cada unidade possuir uma cozinha completa, lavanderia e serviços individuais, os moradores do Lange Eng compartilham o jantar seis vezes por semana.
Para os moradores da comunidade, a experiência de compartilhar espaços e serviços não se resume a uma necessidade habitacional, mas agrega um valor à vida cotidiana tanto dos indivíduos quanto da família. Isso difere das propostas observadas nas décadas de 1960 e 1970 na Dinamarca, onde essa tipologia de conjuntos habitacionais compartilhados buscava dar alternativas ao modelo de moradia tradicional ligado a um suposto padrão de família nuclear.