Praça Skanderbeg

Renovação da praça Skanderbeg em Tirana pelos arquitetos belgas 51N4E.

Fotografia Filipe Dujardin

Projetada para o rei Zog I a princípio do século XX, ampliada por um regime fascista na década de 1920 e readaptada pela ditadura comunista do pós-guerra; durante mais de um século, a Praça Skanderbeg – chamada assim em homenagem ao herói nacional Gjergj Kastrioti – foi um espaço utilizado para a celebração do poder albanês. As diferentes administrações que se sucederam após a queda do comunismo transformaram a praça em um vasto espaço de quarenta mil metros quadrados praticamente em desuso e de difícil acesso para os cidadãos.

A esplanada, cujo perímetro estava mal definido, estruturava um dos maiores eixos urbanos de Tirana, formado pelo Boulevard Zog I ao norte e o Boulevard Dëshmorët e Kombit ao sul, unindo o palácio presidencial a várias embaixadas. No lado norte, se encontram o Museu de História Nacional (1981) e o Hotel Internacional de Tirana (1979) e no lado leste, o Palácio da Cultura (1963) que abriga o Teatro Nacional de Ópera e Balé (1953), a Biblioteca Nacional (1922) e a mesquita Et’hem Bey do século XVIII, com sua Torre do Relógio. Por outro lado, ao redor da praça se encontram diversos edifícios governamentais, entre eles, o Banco Nacional e vários Ministérios.

Fotografia Filipe Dujardin

No contexto de uma renovação urbana profunda promovida pelo antigo chefe de governo de Tirana, Edi Rama, iniciou-se no ano 2000 a restauração da praça central da capital albanesa para ordenar e reorganizar os fluxos veiculares e de pedestres. Em 2011, o então chefe de governo Lulzim Basha revogou o projeto, classificando-o como polêmico, e voltou a estabelecer o automóvel como protagonista da vida urbana. No entanto, em 2016, Erion Veliaj, atual chefe de governo, resgatou a proposta de Rama através de um novo projeto que busca criar uma grande superfície de uso exclusivo dos pedestres, organizar a rede de transporte público, eliminar o trânsito veicular e construir um estacionamento subterrâneo. Essas medidas pretendem valorizar e unificar os edifícios patrimoniais no entorno da praça – bastante ecléticos devido aos diversos regimes que governaram o país – e incrementar a presença da vegetação como parte de um processo de “recuperação” da natureza no centro da capital.

Fotografia Filipe Dujardin

O escritório 51N4E – autor do projeto da Torre TID vizinha à praça Skanderbeg (ver PLOT 25) – que ganhou o concurso internacional lançado em 2008 para transformar o lugar, fundamentou sua proposta em uma praça “anti-monumental”, uma maneira simples e ao mesmo tempo radical de devolver o espaço à vida pública da Albânia democrática.

Planta de sistema de arborização
Referências das árvores

Atualmente, a praça se apresenta como um oásis dentro do caos da cidade: em sua geometria piramidal romana se destaca uma esplanada revestida com pedras locais.  A inclinação de 2,5% está conformada por uma diferença de nível de dois metros entre o seu ponto mais baixo, no centro, e o mais alto, nos extremos. Seu perímetro densamente arborizado, formado por um conjunto de jardins e espaços públicos, atua como uma antessala que favorece a transição entre a cidade congestionada e a praça.

Corte

Após o início dos trabalhos em 2010, e como consequência de uma nova mudança de administração, o projeto foi novamente interrompido, sendo retomado durante o governo seguinte, em 2016. Nestas circunstâncias, a evolução do contexto urbano, da mesma forma que o desejo de durabilidade, consistiu-se uma oportunidade para aperfeiçoar a proposta sem modificar a essência do conceito. O paisagismo foi novamente estudado, convertendo-se em um ecossistema local que antecipa a criação de uma nova ecologia urbana para Tirana. Foram escolhidas espécies nativas para aumentar a resistência natural do sistema como reação à mudança climática; além disso, foram combinadas árvores, arbustos e plantas perenes para fomentar a biodiversidade urbana e controlar o microclima do centro da cidade. Deste modo, valoriza-se a riqueza natural de espécies albanesas, permitindo que o espaço público adquira funções tanto recreativas quanto educativas.

A faixa verde que rodea a praça está composta por doze jardins, cada um deles vinculado ao menos com uma das instituições públicas ou particulares que os rodeiam. A organização espacial dos jardins e seus aspectos técnicos foram estudados em diálogo com todos os participantes do projeto ao longo de uma série de oficinas interativas. O resultado é um conjunto de intervenções contextualizadas que convidam os edifícios públicos e semi-públicos a se abrir ao espaço exterior.

Fotografia Filipe Dujardin

No marco da readaptação do projeto, foi dada especial atenção às questões de transporte e aos investimentos no contexto da praça. Junto ao departamento de mobilidade da cidade, foi construído um estacionamento subterrâneo que abriga diversas funções. De maneira análoga, foram feitas conexões para pedestres e para bicicletas e integrações com a rede de transporte público.

Por último, optou-se pelo uso de materiais locais, tanto por razões logísticas como simbólicas, o que reativou a produção das pedreiras albanesas e transformou o projeto em um novo expoente das riquezas nacionais.

Seleção de pedras locais para o sistema de lajotas

Uma série de ranhuras nas cerâmicas permite que a água que circula pelos canos sob a praça possa escorrer até o centro, ressaltando as cores do mosaico fabricado com pedras de todo o país.

Diagrama de escoamento da água
Sistema de ranhuras e circulação da água

Atualmente, a esplanada – a maior zona para pedestres dos Balcãs – forma parte da reconstrução identitaria da Albânia. A monumentalidade da arquitetura comunista se vê compensada pela dimensão e a simplicidade da praça; a partir daí, os cidadãos podem contemplar os edifícios que definem o passado da Albânia, abertos repentinamente a novas leituras, e aceitá-los como parte de uma história sobre a qual é possível construir o novo.

Em 2018, o projeto recebeu o Prêmio Europeu do Espaço Público Urbano, um concurso promovido a cada dois anos cujo objetivo é recompensar e divulgar obras destinadas a criar, recuperar e melhorar os espaços públicos das cidades europeias.

Fotografia Filipe Dujardin

A matéria completa sobre a renovação da Praça Skanderbeg em Tirana de 51N4E está publicada na PLOT 46!

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